Médicos que atendem pelo SUS (Sistema Único de Saúde) de 18 Estados farão uma paralisação de 24 horas nesta terça-feira (25/10). A estimativa é que, no ABCD, a adesão atinja 3,6 mil trabalhadores; na Capital, 13 mil profissionais devem deixar de atender as consultas eletivas (agendadas). O objetivo do movimento é protestar contra a baixa remuneração e as más condições de trabalho no SUS.
Os médicos da rede estadual reivindicam Plano de Carreira, Cargos e Vencimentos e o piso nacional (salário mínimo profissional) da Federação Nacional dos Médicos (Fenam) de R $ 9.188,22, para jornada de 20 horas semanais.
Um levantamento divulgado pelo movimento indica que os valores pagos atualmente variam entre R$ 723,81 e R$ 4.143,60 – resultando em uma média nacional de R$ 1.946,91.
Estão agendadas para esta terça audiências públicas na Assembleia, às 13h30, e na Câmara da Capital, às 10h. “É uma situação complexa, por isso estamos fazendo essa mobilização de alerta às autoridades e de informação à população, para que o Congresso Nacional, a presidente da República, o ministro da Saúde, governadores, prefeitos e secretários estaduais e municipais tenham consciência de que é preciso melhorar a saúde pública, e os médicos são parceiros relevantes nesse contexto”, ressaltou Cid Carvalhaes, presidente do Simesp (Sindicato dos Médicos de São Paulo) e da Federação Nacional dos Médicos.
O presidente do Sindmed do ABCD (Sindicato dos Médicos do ABCD), Ari Wajsfeld, salientou que a paralisação afetará consultas e exames, mas o atendimento no setor de emergência será normal. “Faremos nossa reivindicação, mas não vamos prejudicar a população”, disse.
Sem incentivo – Para o médico Nelson Nisenbaum, o problema está na falta de políticas de incentivo no setor de recursos humanos do SUS. “Desde que o sistema único foi criado em 1988, não houve uma política de plano de carreira para quem atua na saúde pública. São anos de defasagem salariais e descontentamentos”, disse.
Nisenbaum ressaltou ainda que, atualmente, um médico pode chegar a ter vencimentos de até R$ 5 mil, porém no momento da aposentadoria, o que será levado em consideração é o salário-base, que no último concurso anunciado pelo governo do Estado é de R$ 1,7 mil para 20 horas. “Essa falta de plano de carreira faz com que muitos profissionais deixem de atender na rede pública e busquem novas oportunidades. Essa debandada cria defasagem de profissionais nos hospitais e prejudica o atendimento à população”, salientou.
Setor privado – Profissionais que atuam no setor privado também organizam movimento por melhores vencimentos e contra as más condições de trabalho. Convênios não atendem às reivindicações da Comissão Estadual de Mobilização Médica para a Saúde Suplementar, que estipula o valor mínimo da consulta de R$ 50 para outubro, R$ 60 para dezembro e R$ 80 até meados de 2012. O salário inicial de um médico no Estado é de R$ 414,30. Com gratificações, chega a R$ 1.559,24.
Quanto às condições de trabalho, o presidente do sindicato no ABCD destacou que há ocasiões em que os profissionais têm o trabalho engessado pelas operadoras de planos de saúde. “Se solicito uma tomografia, haverá alguém da operadora questionando se não há outro procedimento mais barato para fazer o mesmo diagnóstico”, afirmou.
O médico explicou que, quando o paciente não é bem atendido pelo plano de saúde, busca a solução no SUS, que o atenderá. “As assistências médicas e planos de saúde empurram esses exames e procedimentos mais caros para o sistema público resolver. Porém, não há uma política clara de ressarcimento. É claro que dessa forma o SUS vai quebrar”, salientou.