Número de usuários de convênios equivale a 52,9% da população dos sete municípios
Mais da metade dos moradores do Grande ABC possuem planos de saúde. Até dezembro do ano passado, 1,4 milhão de usuários utilizavam a assistência médica privada, ou seja, 52,9% da população da região, segundo levantamento da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) a pedido do Diário.
Com 103.919 beneficiários, São Caetano é o município da região com o maior índice de cobertura médica privada, com 62,2% da população. Na sequência aparecem as cidades de Santo André (56%), São Bernardo (54,8%) e Mauá (51,%).
A presença de grandes empresas e indústrias na região pode ser um dos principais motivos para o elevado registro de usuários nos planos de saúde, conforme associa a professora titular de Saúde Coletiva e pró-reitora de extensão do Centro Universitário FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Vânia Barbosa do Nascimento. “Não acredito que haja uma migração individual muito grande do SUS (Sistema Único de Saúde) para o sistema privado. A maioria dos beneficiários da região está em planos corporativos, que têm participação da empresa e do trabalhador. Isso ocorre porque o Grande ABC tem uma alta concentração de empresas, um mercado formal competitivo e mantém a atuação dos movimentos sindicais, que garantem os direitos dos funcionários, incluindo as negociações por planos de saúde”, explica.
Nos dois anos mais críticos da pandemia da Covid-19, o número de usuários dos convênios médicos cresceu 5% na região, passando de 1.375.528 em 2020 para 1.445.981 em 2022 . Em 2021, as empresas privadas de saúde ganharam 44 mil novos clientes, e em 2022 foram 26 mil pessoas que passaram a utilizar o serviço particular.
REAJUSTE DE VALORES
Em um ano, 2.134 pessoas deixaram de utilizar os planos de saúde no Grande ABC. Essa redução no número de usuários pode estar relacionada com o reajuste de preço dos convênios médicos.
Segundo explica a professora de economia da UFABC (Universidade Federal do ABC), Ana Claudia Polato e Fava, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor) dos planos de saúde foi 11,52%, acima do acumulado de 12 meses de 2023, que fechou em 4,62%.
“Uma família representativa gasta 4% da renda com plano de saúde, desta maneira, a contribuição da variação anual foi a terceira maior, imediatamente atrás da gasolina e acima das passagens aéreas. Se levarmos em consideração que os convênios médicos têm um peso considerável no orçamento das famílias, o impacto é ainda maior”, pontua.
Além do reajuste, a docente também associa a saída dos moradores dos planos de saúde ao mercado de trabalho. “O que chama a atenção nos dados é que a queda de usuários de 2023 que aconteceu no Grande ABC não é observada no Estado de São Paulo nem no Brasil. A maior diminuição ocorreu em São Caetano (-5.209), seguida por Mauá (-1.234) e São Bernardo (-858). Quanto desta redução no número de usuários pode estar relacionada ao fechamento de postos de trabalhos nestes municípios?”, questiona.
OUTRO CENÁRIO
Em contrapartida, a assistência médica odontológica nos municípios do Grande ABC registrou crescimento gradativo durante os últimos seis anos. De dezembro de 2018 ao mesmo mês de 2023, os usuários dessa modalidade cresceram 68% nas sete cidades.
No ano passado, os planos dentários contabilizaram quase 1 milhão de usuários na região. No total, 930.925 moradores foram registrados no serviço odontológico – cerca de 34,1% da população local.
DESEMPREGO AFETOU COBERTURA MÉDICA PRIVADA DE MORADORA
Foi por conta do desemprego, que a fotógrafa Nathalie Páiva, 22 anos, moradora do bairro Campestre, em Santo André, precisou sair do plano de saúde no fim do ano passado. Ela pagava R$ 450 por mês para manter a assistência privada, mas após perder o emprego passou a atuar de maneira autônoma e não conseguiu manter a despesa.
Nathalie tem SOP (Síndrome do Ovário Policístico) e durante esse período sem convênio tentou realizar o acompanhamento da doença pela rede pública, mas por conta da alta demanda no SUS, e maior tempo de atendimento, recorreu a consultas particulares.
“Além da síndrome, tenho também endometriose e todo mês sinto dores surreais, e preciso tomar alguns medicamentos. Por conta da demora para passar com um ginecologista, responsável por receitar o remédio, decidi fazer pelo particular. Com a medicação, exames e consultas, gastei cerca de R$ 900 para garantir minha qualidade de vida”, conta.
Por conta da experiência, a fotógrafa aderiu ao plano de saúde da empresa do marido, como dependente, e aguarda a liberação da carência para começar a utilizar o serviço. “Com a doença que tenho hoje é impossível não ter um convênio por conta da demora no atendimento, fora que as datas que marcam as consultas são péssimas, não consideram que as pessoas trabalham, com o convênio ainda é possível marcar uma data que não interfira na rotina do trabalho”, finaliza.
Fonte: Thainá Lana / DGABC