Na passagem do mês de fevereiro para março deste ano, a comercialização varejista no Brasil teve uma queda de 0,6% segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de acordo com dados divulgados pela Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do último dia 7.
Das oitos atividades comerciais pesquisadas pelo IBGE a única que obteve alta no período analisado foi a de hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que tiveram um aumento de 3,3% nas vendas.
As outras sete atividades tiveram quedas. As mais relevantes e com destaque são as categorias de tecidos, vestuário e calçados com -41,5%, móveis e eletrodomésticos com -22% e livros, jornais, revistas e papelaria com -19,1%.
Para Elisangela Rosa, proprietária da Pacífico Modas, loja de vestuário masculino localizada no centro de São Bernardo do Campo, as medidas de isolamento social, foram o principal fator para a queda das vendas durante o mês de março. “Minhas vendas estavam em oscilação desde o início do ano. Tinha dias que meu faturamento era maior, outros dias meu faturamento era quase zero. Quando os casos de coronavírus começaram a aumentar novamente, o movimento caiu de vez e comecei a ficar no vermelho”, afirma a empresária. Ela conta que no atual período observa uma recuperação do cenário e se mantém otimista. “Acredito que conforme as pessoas forem vacinadas e tiverem segurança para sair de casa, as coisas vão melhorar para todos”, diz a comerciante.
Já Elias Santos, dono da loja de móveis Santa Maria, localizada no bairro Orquídeas em São Bernardo, conta que já presenciava um movimento menor desde janeiro desse ano, tendo sentido um impactado maior em março. “Quando voltamos para a fase vermelha, além das vendas que não realizava, tive que cancelar as entregas marcadas, já que não poderia ir à casa dos meus clientes realizá-las e efetuar a montagem dos móveis. Alguns chegaram até desistir da compra”, conta Elias.
Ana Maria Ortega, diretora comercial da Livraria Psico Cultural, espaço gourmet que integra a experiência de leitura com a gastronomia no bairro do Rudge Ramos também em São Bernardo do Campo, analisa que o segmento das livrarias físicas teve uma queda da metade das vendas em relação aos anos anteriores e não vê uma forte retomada para vendas de livros em lojas físicas, já que há algum tempo, os consumidores têm preferido as lojas online. “Elas conseguem descontos altíssimos nas editoras e repassam ao consumidor com preços que as livrarias não conseguem competir”, conta Ana.
O setor com menor registro de queda foi o de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria com -0,1%. Os demais que recuaram foram os setores de outros artigos de uso pessoal e doméstico (-5,9%), combustíveis e lubrificantes (-5,3%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-4,5%).
Para o coordenador de estudos do Observatório Econômico da Universidade Metodista, Sandro Maskio, estamos vivenciando um período de redução da atividade econômica, com elevação da taxa de desemprego e queda da massa de renda. “Este cenário traz uma redução do poder de compra do consumidor, que se reflete na redução do consumo”, afirma o especialista. Para Sandro, o cenário econômico atual é uma situação singular e para a retomada econômica, o principal mecanismo é a vacinação em massa e redução da velocidade do contágio da Covid-19. “Após grandes retrações, sempre há fortes processos de recuperação, puxados pelos países com maior força econômica e estratégias para aproveitar este movimento. O que não vejo o Brasil preparado”, conclui o economista.
*Esta reportagem foi produzida por estagiários da Redação Multimídia do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo