Salário caiu 7% para negros em quatro anos

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Entre 2014 e 2018, a média de rendimentos da população foi de R$ 1.823 para R$ 1.696, redução de R$ 127

Os trabalhadores negros tiveram redução de 6,97% na média salarial na Região Metropolitana entre 2014 e 2018. Em relação aos que estão empregados no mercado de trabalho formal, este número caiu em 2%, enquanto os funcionários de outras raças sentiram uma redução de 1%. Isso demonstra que esta população sofreu mais os efeitos da crise econômica nos últimos anos.

Os dados foram levantados pelo Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), e têm como base os números de pesquisa da Fundação Seade em conjunto com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos). De acordo com análise do economista e coordenador do Conjuscs, Jefferson José da Conceição, as informações também podem ser aplicadas ao Grande ABC, que é parte da Região Metropolitana.

Os dados do primeiro semestre deste ano mostram que atualmente o valor médio salarial dos funcionários negros é de R$ 1.696, enquanto no mesmo período de 2014 era de R$ 1.823 – uma redução de R$ 127 ou seja, 6,9%.

Em comparação com a remuneração atual dos trabalhadores de outras raças, a desigualdade é ainda maior. Atualmente a média salarial é de R$ 2.480, ou seja, R$ 784 a mais do que os negros (veja mais por categoria na arte acima).

O percentual de negros ocupados sem relações de trabalho formalizadas cresceu no período dos últimos quatro anos. No primeiro semestre de 2014 era 27,9% e subiu para 28,7% no mesmo período de 2018. “São diversas questões (que podem explicar a redução da participação do negro no mercado de trabalho). Tem a qualificação, já que as chefias ou comandos não são majoritariamente negros. Um outro fato é que as contratações passam a ter uma menor proporção e pode acontecer um preconceito na escolha. Quando temos um ciclo expansivo na economia, você não introduz estas variáveis, como a cor. Por isso a influência grande da crise econômica”, explicou Conceição.

O especialista também afirmou, com base no estudo, que tanto a formalização quanto a média salarial da população negra teve aumento no período entre 2004 e 2014. Os trabalhadores com carteira assinada aumentaram de 50,7% para 66,1% e a média salarial foi de R$ 1.705 para R$ 1.923.

“De modo geral, vemos dois momentos claros. Entre 2004 e 2014, que era um momento favorável para a economia, tivemos uma redução da desigualdade. De 2014 para 2018, com o retorno de uma situação desfavorável no País, que atingiu a todos os trabalhadores, especialmente os negros, esta desigualdade volta a se acentuar. Estamos vivendo uma possibilidade de recuperação, mas o próximo ano ainda não deve iniciar um grande círculo econômico. O que concluímos é que a redução da desigualdade econômica racial só pode acontecer no ciclo expansivo da economia”, afirmou o especialista

Mercado de trabalho mostra recuperação

Levantamento realizado pelo Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV (Fundação Getulio Vargas) mostra que foram abertas 46 mil vagas com carteira de trabalho na Região Metropolitana de São Paulo. O local – que inclui as sete cidades – aparece no topo da lista como o melhor para a criação de postos formais no mercado de trabalho do País.

“Desde março de 2018, a Região Metropolitana começou a gerar empregos. O que foi até de maneira atrasada, mas agora essa atividade está crescendo com mais força e vigor. Ela vem de uma melhora no mercado de trabalho e consequentemente no emprego formal. Isso demonstra que o Brasil está gerando atividades e é natural que isso se reflita no mercado de trabalho”, afirmou o pesquisador da área de Economia Aplicada do FGV/Ibre, Daniel Duque.

Em compensação, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro teve o pior resultado nacional, com a eliminação de 20.648 postos de trabalho.

Segundo Duque, a melhora em São Paulo também está relacionada à concentração de empresas. “Agora que passou a fase de ajustes do mercado de trabalho, ele começa a ficar mais dependente de empregos formais e dependente da atividade econômica. São Paulo é um grande pedaço da atividade econômica do Brasil, o que também explica isso.”

No acumulado entre janeiro e setembro deste ano, o saldo – diferença entre admissões e demissões – do Grande ABC está positivo em 10.743 vagas, de acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego).

“É um número mais favorável do que vimos em 2015 e 2016. Mas, ainda assim, a necessidade da região é mais alta em termos de emprego por conta do tamanho da população”, afirmou o coordenador do Conjuscs, Jefferson José da Conceição.  

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