Por que tantas pessoas insistem em não usar máscara?

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Mais de um ano de pandemia e sucessivos recordes de mortes parecem não assustar uma parcela dos brasileiros. Ainda é comum ver muita gente sem máscara ou usando a peça de forma errada, o que se torna ainda mais perigoso em locais que geram aglomeração, como pontos de ônibus e comércio de rua. O acessório, tornado obrigatório na maioria dos estados, impede que o vírus entre pelo nariz ou pela boca a partir das gotículas de saliva de alguém que conversa, espirra ou tosse.

A barreira de proteção é ainda mais importante porque os sintomas da Covid-19 demoram alguns dias para se manifestar ou infectam de forma silenciosa os assintomáticos que, sem saber, transmitem o vírus. Com tanta informação e risco, por que as pessoas ainda resistem em usar?

A psicanalista Maria Homem, professora da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), diz que o humano não é um ser plenamente racional, como pregava o filósofo grego Aristóteles. E a explicação do não uso da máscara está no pai da psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939).

— Freud explica. E pós-freudianamente explica mais ainda. No século XIX, aumenta o campo que vai compreender que o humano é, sobretudo, não racional. Ai surgem a psicologia, a psiquiatria e o Freud. A matriz freudiana está ancorada no conceito de inconsciente. O ser humano é basicamente inconsciente e impulsos. Que ele não controla, que ele não detém a origem. Que não entende muito bem — explica Maria.

Segundo ela, como misto de racionalidade, loucura e fantasia, o ser humano regride a um lugar infantil, de medos arcaicos, quando se depara com uma ameaça que revela sua fragilidade.

— O que de fato está acontecendo no mais profundo das camadas tectônicas mentais e psíquicas da nossa espécie neste momento: estamos tendo consciência irreversível da nossa vulnerabilidade — afirma a psicanalista.

Estratégias defensivas

Maria ressalta que, diante da consciência da fragilidade da vida, o ser humano tem dois caminhos: ou elabora a situação com pensamentos; ou, se dói muito compreender a “ferida narcísica”, que o tira do pedestal da “imagem e semelhança de Deus”, ele regride para estratégias defensivas.

— É a negação de tudo. A pessoa pensa: sou muito potente, não preciso disso, ninguém vai dizer como tenho de andar, que tenho de colocar uma focinheira na cara, Deus está comigo… Elimino qualquer voz que venha me revelar coisas que não quero saber ou não estou preparado para saber. É uma defesa desesperada de uma criança em negação, da dura realidade de que seu lugar narcísico era uma ficção. E o que você faz para dar conta disso? Mais ficção.

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