Os adolescentes e as redes sociais

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Manter os filhos fora do mundo virtual é missão quase impossível. Como garantir então que sejam pessoas com valores, sem influência desse meio que pode ser bem hostil?

A adolescência é uma etapa do desenvolvimento do ser humano “necessariamente” marcada por um comportamento desafiador. E não é à toa: a fase tem por objetivo testar limites, praticar, exercitar, experimentar, aprender a tomar decisões, ensaiar atitudes e opiniões, em busca de uma identidade a caminho da vida adulta.

 Porém, atualmente, a educação dos filhos tem surgido com um grande ponto de interrogação, pois os modelos antigos não funcionam mais e diante de tantas informações obtidas em livros – e no Google! –, disciplinar e delimitar se tornaram temas muito debatidos, mas pouco exercitados.

 O retrato da adolescência atual está associado à falta de referenciais e modelos firmes e coerentes. Também é marcado por relacionamentos pessoais e familiares mais frágeis, inconsistentes e, até mesmo, descartáveis. 

 “Vivemos em um momento de extrema individualização, onde a pessoa é definida pelo quanto consome e não pelos valores que possui. É nesse contexto que precisamos entender a adolescência”, afirma Katia Mendes, psicóloga especialista em psicanálise com crianças e adolescentes pela Sociedade Brasileira de Estudo e Pesquisa da Infância (SOBEPI) e diretora e fundadora do Integração Núcleo de Atendimento Clínico e Pedagógico.

 Parte do comportamento inadequado que observamos em alguns adolescentes é reflexo de uma sociedade narcísica, em que valores como o respeito ao outro se perderam.

 Sendo assim, a melhor contribuição que os pais podem dar aos filhos é ensinar a eles autonomia – e isso vai muito além de deixar a criança arrumar o quarto sozinho.

 “Ser um sujeito autônomo é tomar decisões corretas, mesmo quando estiver longe daqueles que lhe orientam”, explica Monica Pessanha, psicoterapeuta infantil e de adolescentes, mestre em psicologia clínica pela PUC.

 Os pais também precisam repensar suas posturas diante de situações cotidianas, entendendo seu papel fundamental na formação ética, moral, social e afetiva do filho, principalmente, por meio do exemplo – afinal, eles são seus primeiros referenciais.

 “Muitas vezes, as reações diante de comportamentos desrespeitosos dos adolescentes também são igualmente desrespeitosas por parte dos pais. Isso cria um ciclo de agressão e violência que pode gerar distanciamento”, enfatiza Katia.

 Além disso, é preciso ter disposição para ouvir, dialogar e estabelecer acordos que precisarão ser cumpridos com firmeza e segurança

 Por um “like” a mais

A adolescência é um período de muita indefinição, insegurança e busca de identidade. Fazer parte, ser aceito e valorizado pelos “pares” (e não somente pela família) torna-se vital para o adolescente, que precisa adotar gradativamente novos papéis sociais, enquanto os pais vão passando a assumir a posição de orientadores e facilitadores.

Nessa fase, é fundamental estimular nos adolescentes uma atitude crítica, para que não se deixem levar pelo grupo, pela satisfação imediatista e pelo prazer. Esses princípios devem ser inseridos pelo diálogo e acompanhamento.

Monitoramento saudável

Na tentativa de prover e controlar tudo, muitas vezes privamos o adolescente da possibilidade de amadurecer. Acompanhar, orientar, perguntar e respeitar a individualidade podem ser estratégias que permitam um acesso menos invasivo e mais participativo na vida de seu filho, dentro e fora das redes sociais.

Quanto mais o adolescente se sentir valorizado e aceito, ou seja, quanto maior for sua autoestima, menos vulnerável e mais saudável estará.

“É importante que os pais construam bases para um relacionamento de confiança e segurança, estabelecendo parâmetros com firmeza e integridade, tendo disposição para ouvir e dialogar, além de tentar entender as situações sob a ótica do adolescente”, afirma Katia.

Contar experiências pessoais envolvendo os assuntos que deseja abordar, assistir filmes e comentar e promover atividades que facilitem um diálogo podem ser ferramentas para formar valores mais “humanos” nos adolescentes.

 Palavra de mãe

Flavia Moura faz questão de dizer que seu filho Pedro, de 12 anos, é um adolescente “fora da curva”. Como qualquer garoto, ele acha tudo “um saco”, não faz nada que se pede sem reclamar antes (mas faz!) e seus melhores amigos, além dos de carne e osso, são o smartphone e o fone de ouvido.

Pedro já tem uma conta no Facebook. No início, segundo a mãe, eram só os joguinhos, depois vieram os amigos da escola, as muitas conversas com as pseudonamoradas. Daí Flavia teve que dar uma estrelinha ao filho, que virou seu melhor amigo na rede, para que ela pudesse saber tudo o que ele posta.

“Também entro em seu perfil diariamente de cabo a rabo e, apesar de eu não perguntar, quando os papos são conflitantes por inbox entre ele e os amigos ou as pretendentes, ele sempre vem me contar”, orgulha-se.

Segundo Flavia, seu filho realmente não está na curva padrão dos adolescentes. Ele não entra em site de sacanagem – apesar de sentir atração por mangás sensuais –, não fala com estranhos, não sente necessidade de ser supercurtido e o banho de selfies arrefeceu assim que o celular fez duas semanas de vida.

“Ele teve um (perfil no) Vine e tentou ser youtube, pois tem mania de ser engraçadinho e sim, ele gosta de aparecer, mas lhe falta um quê de sangue nos olhos para ir adiante. Não é o sonho da vida dele”, analisa.

 A mãe atribui esse perfil bonachão de seu adolescente ao fato de ele ter nascido bom caráter, a presença de papéis bem definidos na família e o fato de poder falar qualquer coisa que queira.

 “A coerência, constância, além da liberdade que damos a ele, é fundamental para que não sinta necessidade de fazer coisas às escondidas e ele respeita as regras, pede antes, ainda que saiba que levará um não. É tudo muito claro. Tão, claro, que eu sinto medo de que um dia ele resolva não se comunicar mais, apesar de essa possibilidade me parecer um tanto impossível”, finaliza a mãe.

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