O hip-hop e os tênis: a relação estreita entre a cultura e a moda

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A conexão entre o movimento cultural e os artigos comerciais ligados à moda sempre foi muito íntima. Não é de hoje que figuras da música e da cultura hip-hop se manifestam em seu vestuário, disseminando estilos que se tornam símbolos de gerações.

Com influências que datam de meados dos anos 60, a origem do hip-hop é ainda muito discutida. Sabe-se que afro-americanos, latinos e jamaicanos, periferizados ao sul do Bronx, em Nova York, começaram a relatar suas vidas e seus problemas sociais, como o preconceito racial e a desigualdade de direitos, em forma de música, dança, grafite, literatura e moda. Essa maneira de retratação de uma realidade tão excludente e sublime refletiu fortemente em uma geração que influenciou muito o estilo de vida dos Estados Unidos da América, alcançando seu auge nos anos 80 e perdurando até hoje.

O movimento ganhou uma rápida disseminação, e as grandes empresas perceberam o potencial bilionário que o “get down” tinha na época. Marcas como Puma, Nike, adidas e Converse começaram a vestir, da cabeça aos pés, B-boys, rappers, MCs e artistas em geral, que eram ícones para jovens e adultos. Iniciou-se, assim, a relação entre os tênis e o hip-hop.

Nos anos 80, a cultura sneakerhead nasceu do casamento entre o basquete e o hip-hop. O sucesso do tênis para a prática foi alavancado com a presença de atletas negros na principal liga de basquete norte-americana. A explosão do estilo nos principais bairros negros de Nova York e Nova Jersey proporcionou uma grande variedade de modelos de sneakers, tornando-os objetos de desejo e símbolos de status.

Diversos artistas, como Grandmaster Flash, Kurtis Blow, Kool Herc, e os grupos RUN DMC e The Furious Five, viraram “garotos-propaganda” das grandes marcas, lançando e assinando vários modelos de sneakers. Em 1986, o boom da cultura sneakerhead se deu pelo lançamento da música “My adidas”, do grupo RUN DMC. Os rappers lançaram uma resposta ao single de Dr. Deas, “Felon Sneakers”, que criticava o modelo adidas Superstar, comparando-o a calçados de prisioneiros, por não possuir cadarços. O sucesso de “My adidas” foi tamanho que a marca, que ainda era pouco conhecida nos Estados Unidos, fechou um contrato de US$ 1 milhão de dólares com o grupo de rap.

Em 1982, foi lançado o Nike Air Force One, um calçado que foi uma revolução dentro das quadras de basquete. O tênis apresentava um revolucionário amortecimento à base de ar nas entressolas e uma tira de velcro no cabedal, o que fez com que muitos jogadores da NBA dos anos 80 o adotassem para as partidas de basquete, como Magic Johnson, Hakeem Olajuwon, Moses Malone, Karl Malone e Michael Jordan, que lançou sua própria linha, o Nike Air Jordan, alguns anos depois.

Não demorou muito para que jogadores amadores de basquete do Bronx se espelhassem nos astros da liga. O Nike Air Force One saiu das quadras e começou a ser usado por B-boys (adeptos ao estilo de breakdance), alcançando grande renome no universo hip-hop.

Atualmente, alguns artistas se arriscam a desenhar os próprios modelos para algumas marcas. Os rappers Kanye West, Snoop Dogg, 2 Chainz e o DJ Clark Kent criaram algumas linhas de calçados para Nike e adidas.

Em entrevista para a “Vogue” americana, Jeriana San Juan, importante designer e diretora de figurino na série “The Get Down”, que traz imagens que retratam a transição entre a disco music e o surgimento da cultura hip-hop, disse que a moda e o hip-hop são sinônimos. Para ela, os anos 80 foram determinantes para a cultura negra nos Estados Unidos, pois ao mesmo tempo que a música era criada, a arte também tomava forma, do mesmo jeito que a dança e a moda, fazendo surgir uma identidade totalmente excepcional para o negro.

 

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