Mês de abril ressalta importância da conscientização sobre o autismo

Prevalência do distúrbio é maior no sexo masculino. Foto: Freepik
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Com a chegada do mês de abril, uma nova fase de conscientização se inicia. Logo no segundo dia do mês há o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, data que serve para informar as pessoas sobre o TEA (Transtorno do Espectro Autista), transtorno que afeta uma em cada 160 pessoas de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde). Os próximos 30 dias fazem parte do Abril Azul, campanha que tem como objetivo dar visibilidade ao tema e reduzir a discriminação contra pessoas autistas.

No Brasil, o autismo entrou na pauta política pela primeira vez em 1990, mas foi apenas em 2003 que a legislação foi aprovada, o que destaca a importância de conscientizar cada vez mais a população. Existem três níveis de TEA, e cada pessoa autista precisa de um acompanhamento diferente, já que o transtorno é diverso e pode variar de um caso para o outro, sendo necessário agir de maneiras distintas para possibilitar uma maior inclusão.

O autônomo Cesar Augusto Segura, 50, que tem um filho autista, comenta que os primeiros sinais apareceram logo no início da infância. “Ele teve atraso em várias questões como, demora para engatinhar, andar e principalmente na fala.” Segura ainda conta que os maiores desafios são o medo e a ansiedade que afeta a pessoa autista. “Está sempre ansioso e têm muitas dificuldades em absorver as atividades da escola”, diz o autônomo.

A neuropsicopedagoga Cintia Brasil, 53, explica como as formas de acompanhamento variam dependendo do nível do TEA. “O nível um, a pessoa vai precisar de suporte e de acompanhamento, e apresenta algumas características ou algumas dificuldades de interação, de comunicação, mas consegue se virar sozinha.” Cintia explica que uma pessoa com TEA nível dois necessita de auxílio para várias atividades mas terá uma vida mais próxima do que chamamos de comum. “No nível três, a pessoa irá precisar de muito auxílio, normalmente ela pode ser não verbal, vai precisar de acompanhamento, não tem interação, é uma pessoa que vai precisar de acompanhamento sempre.”

Cintia conta que para a inclusão das pessoas autistas é preciso se informar cada vez mais sobre o que é o TEA e entender como essas pessoas veem o mundo para que cada cidadão se coloque no lugar delas. “Eles precisam muitas vezes apenas de um auxílio, de um empurrão, de pegar na mão, ou de se sentirem compreendidas e amadas”, reforça a neuropsicopedagoga, ao falar que a sociedade hoje não sabe lidar com essas pessoas por conta da falta de informação. “Precisamos conscientizar mais para que possamos lidar com o autismo e com outros tipos de transtornos e síndromes.”

A neuropsicopedagoga conta que o maior problema é a falta da discussão sobre o tema, já que muitas pessoas acreditam que os autistas não são capazes. “São pessoas que enxergam o mundo de uma maneira muito mais sensível do que nós, eu falo sempre que a gente tem muito mais a aprender com eles do que eles com nós”. Cintia também conta que falar mais sobre o assunto faz com que mais pessoas busquem o diagnóstico e possam buscar o acompanhamento.

DIAGNÓSTICO – A psicóloga Alana Xavier, 24, explica que o diagnóstico de uma pessoa autista pode ser feito por vários profissionais. “O diagnóstico é realizado por uma entrevista clínica, alguns casos específicos irão precisar de testes psicológicos para identificar o TEA.” Alana ainda comenta que o TEA pode ser descoberto na vida adulta, já que muitas vezes em níveis de suporte menores, há o diagnóstico de outros distúrbios como a ansiedade e a depressão.

De acordo com a psicóloga, o TEA tem duas características principais. “A primeira, que é marcante, é o déficit na comunicação social, a outra são os padrões repetitivos e interesses restritos, também chamados de hiperfoco e estereotipia”. O hiperfoco é um assunto pelo qual a pessoa autista se interessa demais, já a estereotipia são comportamentos que podem ser visuais, auditivos ou de movimento. “Às vezes, a pessoa pode ficar ouvindo a mesma música o dia inteiro, ou gostar de se balançar, de andar em círculo, entre outros”.

Segundo a especialista, também existem problemas com questões sensoriais, como ruídos, e comportamentos inflexíveis, como sempre seguir a mesma rotina. “É um universo de pessoas diferentes, cada pessoa precisando de ajuda e de suporte, mas também sendo capaz e competente da sua maneira”, explica.

Alana conta que o acompanhamento para a pessoa autista deve ser multidisciplinar e varia de acordo com o nível de cada paciente. “O ideal era que fosse uma equipe bem preparada que pudesse auxiliar a pessoa da melhor forma possível”, entretanto a psicóloga comenta que o tratamento é caro e não há um grande acesso no sistema público. “Por conta desses problemas, muitas vezes prezamos para que seja feito através da psicoterapia e da medicação.”

Para a psicóloga, as dificuldades do TEA são majoritariamente sociais e que um dos maiores problemas com a questão é o capacitismo – preconceito contra pessoas com deficiência. “Muitas vezes as pessoas autistas sofrem preconceito porque muitas pessoas presumem que as outras são incapazes, o que atrapalha muito o desenvolvimento da pessoa autista”. A especialista reforça ainda que muitas pessoas sofrem estímulos sensoriais em excesso como luzes e sons. “É como se o cérebro da pessoa estivesse sobrecarregado e exausto, fazendo com que ela fique agressiva e estressada”, destaca Alana, ao relembrar que nenhum autista é igual ao outro.

*Esta reportagem foi produzida por estagiários da Redação Multimídia do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo.
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