Com o surgimento de plataformas de streaming, tornou-se cada vez mais fácil para que crianças e adolescentes acessem conteúdos como filmes e séries, muitas vezes impróprios para sua classificação etária.
Séries aclamadas como Euphoria da HBO Max e Round 6 da Netflix, fizeram sucesso não somente com os adultos, mas também com o público infanto-juvenil, mesmo com classificação indicativa de 18 e 16 anos respectivamente.
A psicóloga Gabriela Chemin, que trabalha na clínica São Bernardo em São Bernardo do Campo, explica o quanto a exposição das crianças a estes conteúdos pode afetar o desenvolvimento psicológico: “Os materiais postados hoje nas mídias têm grande poder de persuasão, isso afeta a saúde mental e repercute no comportamento desses jovens indivíduos”.
A especialista ainda explica que devido a exposição desses conteúdos, muitas vezes aterrorizantes, pode levar as crianças a desenvolver Síndrome do Pânico e outros distúrbios.
A influência não vem apenas de filmes, séries, livros e redes sociais, muitas vezes as crianças reproduzem o que aprendem com colegas de classe. A pedagoga Tuane Mena explica que uma boa solução é realizar a orientação de pais e docentes sobre brincadeiras nocivas, como as apresentadas na série Round 6, que podem ser reproduzidas nas dependências escolares.
“Na sala de aula, o professor deve manter o diálogo aberto com seus alunos, explicando o porquê certos canais e conteúdos devem ser evitados, oferecendo a eles, assim, uma mentoria, mostrando conteúdos positivos e como fazer um bom uso da internet, utilizando os conteúdos oferecidos online de uma maneira favorável e que agregue ao processo de ensino-aprendizagem da criança”, finaliza Tuane.
De acordo com dados da rede social TikTok, aproximadamente 50% dos usuários da plataforma são adolescentes menores de 13 anos, faixa etária recomendada para o uso do aplicativo. Crianças entre 9 e 12 anos conseguem acesso pelas contas de seus responsáveis, burlando assim a restrição do programa.
A pré adolescente Fernanda Demarchi Paulon, de 11 anos, comenta sobre seu uso nas redes sociais: “O que eu mais vejo é TikTok, onde eu assisto várias coisas, tipo Round 6 e Casos Criminais. Essas coisas que eu não posso ver na Netflix, na HBO, acabam passando no TikTok e fico assistindo para saber como que é, já que não vou assistir a tudo nos sites mesmo”.
Já Joana (nome fictício), diz que também teve acesso a conteúdos impróprios em aplicativos: “Lá você não tem muito controle do que pode aparecer pra você ou não, então isso acontece bastante”. Seu pai, Valdomiro de Oliveira, diz que as plataformas digitais não se preocupam com o acesso indevido de crianças: “ Acredito que o cunho comercial é muito mais importante, não levando em conta se o mesmo é próprio ou não”.
Gabriela Chemim afirma que a responsabilidade também é dos pais, pois fornecem o acesso à tecnologias mais cedo e não fiscalizam os conteúdos acessados pelos filhos. A advogada e mãe Valéria Barros, conta como hoje em dia é mais difícil controlar o que os filhos assistem: “Eu procuro ter o controle. Mas, hoje em dia é muito complicado por conta do acesso que eles têm à tecnologia e da vida que a gente acaba levando em relação ao mercado de trabalho, então fica um pouco difícil de controlar. Mas, eu busco conhecer o que a minha filha menor está assistindo e lendo”.
Segundo a pedagoga Tuane, há algumas medidas que os pais podem tomar para proteger suas crianças na internet: “Proibir nunca é a solução. Sabemos que apenas proibir, sem explicar o porquê ou ter uma conversa esclarecedora acerca do assunto acaba por atiçar mais ainda a curiosidade e vontade de qualquer um, desde crianças até adultos. Então, mais uma vez, é importante ter um diálogo aberto com as crianças, explicar o porquê daquele filme/série ou brincadeira não ser ideal para sua faixa etária, e claro, oferecer algumas alternativas que sejam apropriadas para sua idade e para o ambiente escolar. É importante impor limites, mas sempre trazendo soluções para que esses momentos sejam agradáveis para todos”.
É importante estabelecer um local para monitorar o que os filhos acessam; Ser amigo e ficar do lado deles quando estiverem assistindo séries, filmes ou jogando; E promover atividades em família que apoiem o crescimento psicossocial da criança.
*Esta reportagem foi produzida por alunos do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo