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Pais embalam geração canguru
São conhecidos como “Geração Canguru” os filhos entre 25 e 34 anos de idade que ainda moram com os pais. Em 2002, um a cada cinco jovens nessa faixa etária viviam com a família, até o final de 2012, esse número mudou para um em cada quatro, segundo o estudo “Síntese dos Indicadores Sociais – Uma análise das condições de vida da população brasileira”, feito pelo IBGE. Essa pesquisa mostra que dentro de dez anos houve mudanças no comportamento das famílias brasileiras.
O levantamento aponta que as exigências do mercado de trabalho são a principal razão para que pessoas dentro dessa faixa etária permanecem morando com os seus familiares. São 14% desses jovens que continuam estudando, contra 9% que não têm nenhuma ocupação.
Segundo a doutora em Sociologia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Luci Praun, as diferenças encontradas pelo IBGE dentro desses dez anos se devem principalmente à situação econômica do país e não somente ao comportamento das famílias brasileiras.
“Na maioria dos casos, eles trabalham, estão estudando ou estão buscando se inserir no mercado de trabalho. O problema é que esse mercado mudou e os salários não conseguem mais fazer com que eles se mantenham pagando aluguel ou uma casa própria e também uma universidade, que já virou uma exigência”, disse.
O consultor tributário William Santos Cavalheri, 25, faz parte dessa geração. Formado em direito e pós graduado em planejamento tributário, Cavalheri acredita que planejar e estipular metas são as principais soluções para conseguir sair de casa. Ele prevê que, em dois ou três anos já consiga morar com a sua noiva e manter o mesmo padrão de vida que tem hoje em dia.
“No meu trabalho de consultoria, quanto mais bem capacitado eu estiver em diversas áreas, é melhor. Então, os cursos que eu tenho feito, inclusive de idiomas, são muito importantes”, disse William, morador de Santo André.
Pais
Já os pais não se importam em continuar arcando com as despesas dos seus filhos e até preferem que eles só saiam de casa quando se sentirem preparados para enfrentar as suas próprias responsabilidades.
A dentista Vilma Mattos de Oliveira Cardoso, moradora de São Caetano, tem três filhos. Desses, dois deles, Bruno, 29, e André, 27, são “cangurus”. Já a filha, Giovana, 23, ainda não integra essa geração.
Para Vilma, deixando de ter gastos, eles poderão investir no futuro. “Acredito que eles estejam trabalhando e estudando para conseguir alguma coisa só deles. Aqui eles têm casa, comida e roupa lavada”. Dos três, dois continuam estudando. Mas todos trabalham desde os 18 anos.
Só para casar. É o que diz o pai do Lucas Vinícius da Silva, 25, sobre os filhos saírem de casa. Ele e a mulher sabem que os filhos já possuem condições suficientes para se sustentarem, mas preferem que os dois não saiam de casa para morar sozinhos. E acrescenta ainda que estarão presentes para ajudar sempre que precisarem.
“Vamos continuar ajudando quando eles decidirem sair de casa. Eles estão dentro dos nossos planos para o futuro”, afirmou Mario Luiz da Silva, pai de Lucas.
Formado em Sistemas da Informação, Lucas nunca se sentiu confortável em depender dos pais depois que completou a maioridade. Entende a preocupação deles e acredita que só sairá de casa se for mesmo para casar, mas isso não elimina algumas responsabilidades que é ajudar com as despesas mensais e sustentar os seus próprios gastos.
Ele conta também que mesmo com a primeira graduação, o MBA em gerenciamento de projetos e o curso de línguas, o mercado de trabalho continua exigindo a atualização constante do profissional e por isso, uma nova pós graduação já está dentro dos seus planos para o futuro e ele sabe que pode contar com os seus pais.
Os valores dentro de casa e na sociedade como um todo mudou após esses 12 anos e isso se deve a diversos fatores, como a crise econômica, a maleabilidade dos pais diante da educação dos seus filhos e também as exigências encontradas no mercado de trabalho, o que torna essa tendência cada vez mais comum e com probabilidade de crescimento para os próximos anos.
A socióloga Luci não vê problemas nessa mudança e diz que a adaptação das famílias brasileiras foi muito boa em relação a ter seus filhos mais tempo dentro de casa. No passado, a saída “cedo” era mais um desejo da juventude para ter sua liberdade do que uma imposição dos pais e isso se deve a um contexto histórico, social e econômico, mas que no geral não traz grandes problemas para o crescimento e amadurecimento desses jovens “cangurus”.
*Esta reportagem foi produzida por alunos do curso de jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo
leia mais em https://www.metodista.br/rronline/rrjornal
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