Por causa de custos como aluguel e taxas, alguns vendedores e prestadores de serviço resistem a usar máquinas de cartão
Para não deixar a falta de troco atrapalhar os negócios, comerciantes do Rudge Ramos procuram alternativas na hora de receber pelos serviços prestados ou pela mercadoria vendida e recorrem uns aos outros para conseguir moedas e cédulas de valores baixos.
Esses comerciantes estão sentindo os efeitos de um problema diagnosticado pelo Banco Central: a falta de troco. De acordo com o banco, 7,4 bilhões de moedas emitidas até dezembro de 2015 estão retidas nas casas dos brasileiros. Essa quantidade represada representa um terço do total de moedas emitidas até aquele ano.
Nem mesmo as facilidades proporcionadas pelo uso do cartão de crédito e débito têm reduzido o efeito da falta desse dinheiro de metal. É que há estabelecimentos comerciais que não aderiram ao dinheiro de plástico. O motivo é o custo, pois, além das taxas para pagar pelo serviço, o comerciante tem que desembolsar dinheiro para o aluguel da máquina.
Um exemplo dessa situação é o Estacionamento Universitário, na rua Alfeu Tavares. Pagamentos só podem ser feito em dinheiro. “A gente [os funcionários] chegou a colocar um cartaz com os dizeres ‘quebre seu cofrinho, nos ajude com o troco’”, disse a atendente Cristiane Midori, como forma de facilitar os pagamentos.
Porém, mesmo com essa campanha bem humorada, Cristiane disse que precisa recorrer a outros comerciantes próximos na hora de dar o troco para quem usa o estacionamento. Segundo ela, está difícil trocar dinheiro até nas agências bancárias.
Cristiane também falou que já deixou os clientes ficarem devendo R$1 e, na hora de fechar o caixa, colocou dinheiro do próprio bolso para o saldo não ficar negativo.
Mas moeda de R$ 1 é o que não faltou ao vendedor de cachorro-quente Sebastião Gargantini, quando recebeu 80 moedas desse valor a serem deixadas de crédito. Gargantini, que trabalha na rua do Sacramento desde 1996, disse que a quantia foi repassada por um cliente assíduo que também trabalha com comércio.
Ao lado da tenda de Gargantini, fica a de Eneas Gonçalves Dias, que também vende cachorro-quente e não trabalha com cartão. Dias, que trabalha no mesmo local desde 1979, afirmou que conhece a maioria de seus clientes e por isso não vê problema em deixar que paguem no dia seguinte, já que nunca sofreu nenhum prejuízo por adotar tal medida.
Porém, Dias percebe que “o dinheiro eletrônico está dominando o mercado” e acredita que um dia ainda vai precisar ter uma máquina de cartão.
Solidariedade
Muitos universitários passam na Alpha Copiadora, estabelecimento da Jéssica de Oliveira, na rua Lídia Tomé, para tirar xerox que custam R$ 0,15. Por isso Jéssica não tem problemas com troco em moedas. Mas as cédulas de R$ 2 e R$ 5 costumam fazer falta. “Nós percebemos que as pessoas costumam vir com notas altas no final de um mês e começo de outro porque é época de pagamento”, disse.
Para solucionar o problema, Jéssica vai até a barraca do vendedor de cachorro-quente Eneas Dias para deixar as suas moedas e, em troca, consegue as notas de valores mais baixos.
No caixa da lanchonete Cabana, na avenida Rudge Ramos, onde trabalha a atendente Thaynnan Roberta da Silva, faltam moedas de R$ 1 e R$ 0,50. Para consegui-las, Thaynnan junta moedas de valor menor e troca com os cobradores de ônibus que passam no local.
*Esta reportagem foi produzida por estagiários da Redação Multimidia da Universidade Metodista de São Paulo