Com crédito farto, jovens brasileiros se endividam mais

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As estatísticas sobre endividamento mostram que muita jovens vão comemorar o Natal no domingo e passar os meses seguintes lutando para pagar os presentes.

Isso porque o crédito fácil que irrigou a economia do país nos últimos anos está causando inadimplência especialmente entre os mais novos.

Um levantamento da Associação Comercial de São Paulo mostrou que 17% dos endividados têm entre 20 e 25 anos -em 2010, eram 10%.

“Existe uma especial ansiedade entre os jovens de consumir moda, de gastar na balada, de comprar carro. E hoje tudo isso é oferecido para eles de forma muito facilitada”, diz Gustavo Cerbasi, consultor financeiro e colunista da Folha.

Por exemplo: o “Folhateen” fez um levantamento entre os grandes bancos do país e descobriu que todos têm cartões de crédito destinados ao público jovem, oferecendo limites de até R$ 1.000 sem necessidade de comprovação de renda.

As contas universitárias oferecem ainda cheque especial, com juros de até 10% ao mês. Nesse ritmo, uma dívida não quitada de R$ 1.000 vira, em um ano, R$ 3.138 -em dois, serão R$ 9.849; em três, R$ 30.912. É o monstro dos juros compostos.

Além dos grandes bancos, é possível se endividar utilizando os cartões de crédito oferecidos por grandes redes de varejo ou pegando um empréstimo em uma financeira.

A estudante Lívia Jurkowitsch, 18, conhece bem os riscos de se deixar levar pela tentação do crédito. Ela gastou R$ 400 no cartão para bancar uma fantasia para um evento de “cosplay” -quando jovens caracterizados como personagens de gibi, cinema ou desenhos se reúnem.

A sua mãe não gostou de ter de bancar a fatura. “Ela queria tirar a minha mesada, não me dava mais nenhum centavo. Aí combinamos que eu limparia a casa. No dia seguinte, tive de varrer tudo, limpar a cozinha, o banheiro, passar pano.”

O trauma foi suficiente? “Fiquei com dor nas costas, nunca mais quero lavar o banheiro!”, ri Lívia. “Mas ainda não sou como meu irmão. Ele é muito pão duro, fica meia hora na loja e vai embora sem nada. Eu saio com 30 sacolas.”

Quando os pais não podem socorrer a “crise da dívida” dos filhos, é necessário recorrer a um pacote de austeridade para pagar a conta.

Foi o que aconteceu com a vendedora Juliane Pereira, 20. Ela acumulou uma dívida de R$ 1.200 no cartão, quase duas vezes o seu salário. “Eu ia muito ao shopping e só pagava o valor mínimo da fatura”, diz. Resultado: a dívida foi crescendo até ela ter de ir ao banco para negociar uma maneira de pagar a contar.

“Agora estou tentando me controlar para o Natal, mas comprar sempre me deixa mais feliz quando estou chateada por alguma outra coisa.”

Em casos extremos, a utilização do cartão de crédito como calmante pode levar à dependência -há tratamento para compradores compulsivos no Hospital das Clínicas e em grupos como o Devedores Anônimos, que funciona nos moldes do Alcoólicos Anônimos.

Para reduzir a dívida, a recomendação é fazer como Juliane: procurar o banco. “Eles renegociam oferecendo juros menores. Depois de quitar o que deve, o jovem precisa aprender a parar de encarar o cartão de crédito como uma extensão do salário”, diz Fabiano Lima, professor de finanças da USP e pesquisador do instituto Assaf.

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