Após boom, lojas a partir de R$ 1,99 sobrevivem

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Recessão econômica e alta do dólar repaginaram comércio popular

Não precisa ser um bom frequentador do varejo popular para ter notado que a época dos preços fixos já ficou para trás. Isso porque, desde quando surgiram como sensação no país, no final da década de 1990, as famosas lojas de apenas R$ 1,99 sofreram mudanças e tiveram de se adaptar ao novo cenário econômico.

Se antes a baixa inflação e a paridade dólar/real influenciaram a aparição desse tipo de comércio, hoje a desvalorização da moeda e a inflação na casa dos 10% colocaram uma verdadeira “corda no pescoço” dos comerciantes, segundo o aposentado Joares Carlos Julião, 57.

Quando decidiu abrir a “Loja a partir de R$ 1”, há nove anos, em Mauá, 50% dos itens do estabelecimento dele eram comercializados por esse valor. Hoje, apesar de poucos artigos ainda nesse preço, Julião afirma fazer o possível para segurá-los. “Diminuí o lucro para não aumentar o preço. Às vezes, você perde o cliente por causa de 10 centavos.”

Ainda que não considere mais um negócio vantajoso para os “pequenos”, o comerciante aposta em uma velha fórmula para manter as portas abertas. “Para ter resultado, eu trabalho com parente. Se eu colocar dois ou três funcionários, aumenta o custo”, afirmou.

Quem também sente a dificuldade do setor é Michael Batista Borges, 36, dono de duas lojas de perfil popular em Mauá, com 50% dos produtos vendidos a R$ 1. Para ele, o que pesa são as incertezas do mercado, já que atualmente não consegue ter uma média de venda diária. “Hoje, saio de casa e não tenho como fazer um planejamento de quanto vou vender”, contou.

O carro-chefe das lojas do comerciante é o alimentício, como balas e bolachas. Mas, segundo Borges, a grande variedade de artigos ofertados atrai os consumidores e acaba tornando o empreendimento lucrativo e “o melhor [negócio] que tem”. “O pessoal entra para comprar só um escorredor de louça e sai com três sacolas cheias de produtos.”

Novo rótulo

A diversidade de mercadorias a preço justo e com qualidade é o diferencial desse comércio, avalia Marcelo Pinto e Silva, um dos colaboradores da Expo Brasil Feira, evento de negócios no atacado e que abriga a “Feira de 1 a 99”.

De acordo com o especialista em marketing, apesar do momento delicado do país, tal característica do setor gera oportunidades de crescimento para quem “não cruzar os braços e ir com a maré”. Para Silva, além da gama de produtos comercializados, muitos relacionados às necessidades do dia a dia, hoje as lojas de variedades – como prefere chamar –, também abrangem todo o tipo de consumidor.

“Antigamente, se relacionava produtos de R$ 1 a R$ 99 com baixa qualidade. Agora esse cenário mudou. Sempre tem um consumidor, independentemente da classe social, que precisa de uma utilidade doméstica e de um artigo de decoração”.

Esse é o caso de Santina Batista da Silva, 75, consumidora assídua das lojas de R$ 1 há quase 20 anos. Toda semana, quando percebe que a despensa da casa começa a esvaziar, corre para o centro de Mauá para encher a cesta com utilidades e alimentos que leva para o marido e a bisneta. Apesar de não comprar nada de marca, disse garantir que os produtos valem à pena.

“Aqui não tem nada famoso, mas é tudo gostoso. Nunca fez mal a ninguém e faz bem ao bolso da gente”, contou a aposentada, frisando também que, em tempos de crise, tem que se fazer economia procurando os melhores preços. “Eu sou assim: saio procurando. Onde tem os produtos mais em conta, eu estou ali [para comprá-los]”.

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