Com a chegada do período de férias, aumenta o número de jovens que, como lazer, empinam pipas. Isso causa preocupação, pois, em que pese ser uma diversão, pode embutir um perigo. É que muitos jovens usam materiais cortantes, com o objetivo de “ralar” a linha de outras pipas que estejam no ar.
Quem pode sofrer as consequências disso são pedestres e motociclistas, que ficam expostos a cortes, lesões por causa das chamadas linhas chilena (mistura de cola madeira e pó de alumínio) e cerol (composto de cola e vidro moído).
O problema é tão sério que os motociclistas, para evitar acidentes graves, instalam antena “corta-pipas” em suas motos, que é feita de metal e com um gancho na ponta. O objeto deve ser instalado na altura da cabeça do condutor em pelo menos um dos guidões, e custa cerca de R$ 40, dependendo do modelo.
Inclusive, o próprio Código de Trânsito Brasileiro determina, por meio da resolução nº 356/2010, o uso obrigatório dessa antena aparadora da linha cortante.
O diretor do Sindicato dos Motoboys do ABC, Carlos Eduardo Tavares, 37, ressaltou que o uso do aparato é vital para os motociclistas. “Eu já fui vítima. Sorte que eu tinha a antena. Quando vi a linha, virei de lado, e chegou até a minha testa. Se não fosse pela antena e o capacete, algo mais grave poderia ter acontecido.”
Mas, de acordo com Tavares, a maior dificuldade é em repelir e ter de conscientizar. Mas, para ele, isso não é o suficiente. “Quem tem que ter esse cuidado realmente é o próprio usuário de moto”, disse Tavares, que afirmou que a linha sem cortante também é perigosa e pode causar acidentes.
“Defesa”
Agora, quem empina pipa e usa esses produtos na linha tem outra justificativa para usá-los, mesmo reconhecendo que é contra a lei. Um morador do Jardim Patente, próximo a São Caetano, sob a condição de não ser identificado, aceitou falar sobre o hábito. “Muitas pessoas empinam com a linha chilena, não no intuito de cortar outra pipa, mas sim de se defender daqueles que estão mal intencionados”, disse o autônomo de 23 anos para alegar o uso de cerol ou linha chilena.
Mesmo tendo presenciado um acidente com uma criança e até mostrar cicatrizes na mão esquerda devido à linha cortante, o autônomo afirmou que, apesar dos riscos, não consegue parar de soltar pipas.
Ele declarou também que a fiscalização é precária, mesmo com diferença de cor nas linhas, que é o caso da chilena, que tem várias colorações. “Se a polícia tivesse um pouco mais de punho em relação a isso, seria menos comum esse tipo de acontecimento.”
Até a internet acaba contribuindo para divulgar esse ato ilegal. A reportagem apurou que o modo de fabricação de linhas cortantes pode ser encontrado facilmente nas redes sociais. Há vídeos que duram cerca de 25 minutos e são de fácil acesso para todos os usuários. Nas imagens, também são mostradas fábricas caseiras de linhas.
Vendas
Porém empinar pipa, desde que com linha pura, sem cortante, não é ilegal. Tanto que em papelarias, são comercializadas nas mais variadas cores e tamanhos. O gerente do bazar São José, do Rudge Ramos, Marcelo Fuzeti, 48, afirmou que o campeão de vendas neste período são pipas e seus componentes, como as rabiolas e a linha pura. Somente neste mês, o comerciante disse que já vendeu 150 pipas, 80 rabiolas e 60 linhas. Uma pipa custa cerca de R$ 0,80. Já um carretel de linha varia de R$ 2,80 a R$ 5,80. Só a rabiola, R$ 0,80. “Quando era criança, eu mesmo fazia o pipa. Hoje, está mais fácil com os pipas já fabricados.”
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