De acordo com pesquisa realizada pela Kantar, empresa de consultoria especializada em dados, as proteínas perderam espaço nas refeições dos brasileiros nos últimos dois anos. O consumo de proteínas, desde 2021, caiu cerca de 9% e os números dizem que a principal responsável por esse cenário é a carne bovina, que teve 4% de seu consumo total reduzido no somente primeiro quadrimestre de 2023.
O economista Sandro Maskio explica que o principal fator para essa situação é a inflação. “Tivemos uma alta nos preços das carnes bovinas bastante considerável durante o período da pandemia até os dias atuais. A variação foi maior do que a média do salário mínimo, então as famílias mais pobres são as mais afetadas.”
Paulo Jorge Silva, 47, é morador de Diadema e motorista de aplicativo. Ele relata que sentiu no bolso as mudanças nos preços da maior parte dos alimentos cotidianos. “Tive de buscar outras alternativas nos últimos anos, a carne de boi ficou muito cara e o preço dos outros alimentos acompanhou esse ritmo. Até o ovo ficou mais caro.”
Uma alternativa para substituir os produtos bovinos é a carne suína, que dobrou sua presença na mesa dos brasileiros. No primeiro quadrimestre de 2021, a carne de porco tinha 4,6% do consumo de carnes no país, já no mesmo período deste ano, os produtos suínos ocupam 9,1%. Segundo Maskio, esse tipo de alimento não acompanhou os preços das outras carnes no período. “A carne suína, muitas vezes, até teve seu preço reduzido durante a pandemia, e isso faz com que se torne mais atrativo para a maior parte da população.”
O economista ainda comenta que é difícil prever as tendências futuras para o preço das proteínas. “A variação depende de muitos fatores. Nas últimas semanas o preço da carne bovina diminuiu, pois a quantidade de gado aumentou consideravelmente. Mas é complicado fazer algum tipo de previsão, pois a economia externa ainda não voltou à média pré-pandemia.”
CARNE BOVINA X SUÍNA – O nutricionista Lucas Santana explica que há uma crença sobre a carne suína ser menos saudável em comparação com a carne bovina, mas isso não é verdade. “A carne suína não possui grandes diferenças quando comparada à carne bovina e que possa levar a uma eventual deficiência de algum nutriente, pelo contrário, é também uma carne bastante nutritiva e completa.”
A professora de ensino infantil e moradora de Santo André, Gisele Castelo, 36, conta que precisou reduzir o consumo de carne bovina em sua casa. “Minha família come bastante carne, então não é possível substituir completamente por outra opção, mas agora precisamos improvisar com outros pratos, de vez em quando, como macarrão e peixes.”
Lucas Santana alerta que o consumo excessivo de qualquer tipo de carne pode ser prejudicial à saúde. “O consumo excessivo de proteínas pode acarretar a obesidade e o acúmulo de gordura e colesterol sanguíneo. Também é importante ressaltar que pode levar a uma sobrecarga de função renal para pessoas com predisposição à doença renal crônica ou que já possua alguma alteração em sua função.”
O especialista explica ainda que uma alimentação saudável é definida pelo conjunto de todos os alimentos compostos em uma refeição, sem privações desnecessárias e na quantidade adequada, evitando excessos e sendo importante conter todos os grupos de alimentos.
*Esta reportagem foi produzida por estagiários da Redação Multimídia do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo.