Trabalhadores entram em greve contra fechamento da Ford em São Bernardo

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Assim que foi anunciado pela Ford o fechamento da fábrica de São Bernardo, ontem à tarde (19), trabalhadores e representantes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC decidiram entrar em greve imediatamente. A unidade produz o Fiesta e as linhas de caminhões Cargo, F-4000 e F-350. Como a montadora não vai mais comercializar estes modelos, a unidade de São Bernardo do Campo ficará completamente ociosa. A empresa também confirmou que deixará o mercado de caminhões na América do Sul. Uma nova assembleia para encaminhar os próximos passos da luta ocorrerá na próxima terça-feira (26).

“Nós lutamos, fizemos de tudo para que isso não ocorresse. E não dá para ter uma notícia dessa e achar que dá para continuar trabalhando. Precisamos ir todos para a casa e retornar na semana que vem. Até lá é greve”, disse José Quixabeira de Anchieta, coordenador-geral do Comitê Sindical na Ford.

Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão, a notícia foi recebida com indignação e revolta. “Em janeiro, fizemos uma assembleia na portaria da fábrica, decretamos o estado de luta e pedimos que uma reunião acontecesse para que a Ford deixasse claro qual era a sua real intenção em relação a planta de São Bernardo do Campo. E hoje nos deparamos com o anúncio de que ela encerrará as suas atividades ainda este ano. Anúncio este que não considera cada trabalhador e trabalhadora direto ou indireto, aqueles que serão atingidos por uma empresa que quer visar o lucro somente”, critica Wagnão.

É o que reforça o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM), Paulo Cayres, que também é trabalhador da Ford. “Fomos pegos de surpresa com essa forma irresponsável que a Ford utilizou para anunciar o fechamento da fábrica”. “Faremos o que sabemos fazer de melhor: a luta. Lutaremos até o final pelos nossos empregos e direitos. E assim como fizemos em 1998, quando a Ford teve uma atitude irresponsável semelhante, lutaremos para reverter esse quadro e garantir os empregos dos metalúrgicos e metalúrgicas.”

Em nota, a montadora alega que a crise econômica inviabiliza a continuidade da produção na cidade. Com a decisão, cerca de 3.200 trabalhadores diretos e cerca de mil terceirizados serão demitidos. A decisão foi tomada na sede dos Estados Unidos e comunicada ontem (19) à unidade de São Bernardo. O Sindicato dos Metalúrgicos tentara, desde janeiro, negociar a produção de um novo modelo de veículo em São Bernardo do Campo, já que a produção de carros mais novos foi direcionada para a planta de Camaçari, na Bahia.

A visão da empresa

Em nota, a empresa disse que deixará de comercializar as linhas de caminhões Cargo, F-4000, F-350 e do compacto Fiesta assim que terminarem os estoques. “A Ford está comprometida com a América do Sul por meio da construção de um negócio rentável e sustentável, fortalecendo a oferta de produtos, criando experiências positivas para nossos consumidores e atuando com um modelo de negócios mais ágil, compacto e eficiente”, disse Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul.

Ainda segundo a empresa, a decisão de deixar o mercado de caminhões foi tomada após vários meses de busca por alternativas, que incluíram a possibilidade de parcerias e venda da operação. E que a manutenção do negócio teria exigido um volume expressivo de investimentos para atender às necessidades do mercado e aos crescentes custos com itens regulatórios sem, no entanto, apresentar um caminho viável para um negócio lucrativo e sustentável.

“Sabemos que essa decisão terá um impacto significativo sobre os nossos trabalhadores de São Bernardo do Campo e, por isso, trabalharemos com todos os nossos parceiros nos próximos passos”, disse Watters. “Atuando em conjunto com concessionários e fornecedores, a Ford manterá o apoio integral aos consumidores no que se refere a garantias, peças e assistência técnica.”

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