O fato é que a maioria dos estudantes costumam demonstrar certa indiferença pelas matérias das Ciências Humanas, às vezes porque recebem pouco estímulo na escola ou porque a apreensão do raciocínio social/filosófico exige uma densa carga de leitura e por isso parece ser complicado demais. Há também aqueles que focam tanto numa vaga na universidade que acabam acreditando que essas disciplinas não são relevantes, importando apenas o estudo das Ciências Exatas e Biológicas.
Sem desconsiderar a importância de qualquer área do conhecimento, nesse artigo levaremos em conta a participação das Ciências Humanas como de extrema importância para o entendimento do cenário político e social do país e do mundo. É justamente desse assunto que as redações do ENEM costumam tratar, ou seja, para realizar uma boa redação é interessante que se pense social e filosoficamente sobre o tema. Desta forma, o aluno consegue destaque quanto às competências exigidas pela redação do Exame Nacional e no desempenho da atividade dissertativa. Além disso, também têm as questões objetivas da prova que cobram do estudante uma noção de interdisciplinaridade entre as disciplinas das Humanas.
Preocupando-se com essas questões a serem pensadas durante a prova, a Estuda.com preparou uma série de dicas que ajudarão a esclarecer algumas dúvidas sobre o efeito dessas disciplinas no ENEM e como se preparar para não se surpreender na hora da tão esperada prova. Vamos nessa?
O que são as competências na redação do ENEM?
Segundo a Cartilha do Estudante feita pelo Inep em 2017, dois professores irão corrigir a nota do estudante, sem que ambos saibam a nota atribuída um do outro, irão avaliar a dissertação segundo as 5 competências exigidas pelo exame. Elas tocam em pontos importantíssimos que, de fato, analisam a capacidade do aluno de defender a sua tese, isto é, sua opinião, a qual deve estar de maneira impessoal, relacionada com o tema proposto. Por exemplo, se o tema é “Caminhos para combater a intolerância religiosa”, como foi no ano de 2016, o estudante, ao preparar-se para redigir sua tese, deverá se preocupar, primeiramente, em “demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa”, como é exigido na primeira competência. Depois, “compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa”, que é a exigência do segundo critério de avaliação. “Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista”, sendo a terceira exigência a ser atendida. Em quarto lugar, ele deve “demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação” e por último, “elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos”.
Cada competência acima tem o valor máximo de 200 pontos, sendo avaliadas como níveis a serem atingidos. O nível mais alto é a pontuação máxima. Isso significa que o aluno conseguiu atingir, com excelência, toda a habilidade exigida pela competência. As notas mais inferiores são, em ordem decrescente, 160, 120, 80, 40 e 0 pontos e correspondem à maneira como os corretores julgarão seu domínio sobre cada uma das competências. Se for de 0 pontos, significa que o estudante não conseguiu atingir nenhum nível da competência.
Atente-se ao segundo critério: “compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa”, pois, se avaliado em 0, significa fuga do tema, o que acarreta anulação total da prova dissertativa.
Porque Filosofia e Sociologia ajudam nessas competências?
Como acabamos de perceber, a segunda competência exige o domínio de diversas áreas do conhecimento para atingi-la em sua máxima excelência. Então, dominar apenas a disciplina de Língua Portuguesa pode até ajudar o aluno quanto aos critérios de estruturação textual, no entanto, pode não ser o suficiente no momento em que for necessário relacionar os argumentos com outras disciplinas.
Observe este trecho de uma redação, que está disponível na Cartilha do Participante, feita pelo Inep em 2017, como exemplo de redação nota 1000:
“Outrossim, vale ressaltar que essa situação é corroborada por fatores socioculturais. Durante a formação do Estado brasileiro, a escravidão se fez presente em parte significativa do processo, e com ela vieram as discriminações e intolerâncias culturais, derivados de ideologias como superioridade do Homem Branco e Darwinismo Social. Lamentavelmente, tal perspectiva é vista até hoje no território brasileiro. Bom exemplo disso são os índices que indicam que os indivíduos seguidores e pertencentes das religiões afro-brasileiras são os mais afetados.”
Desirée Macarroni Abbade, autora da redação, utilizou de seu conhecimento sobre Sociologia para argumentar contra a intolerância religiosa e, junto a isso, pode-se observar referências históricas e antropológicas que qualificam ainda mais o argumento que a estudante escolhe para defender a sua tese. Os corretores gostam disso, mas muito mais do que agradá-los, pode ser um indício de que o participante está apto para desenvolver em qualquer área do conhecimento dali em diante, uma vez que está claro que ele tenha um vasto repertório de conhecimentos para serem aplicados durante o exercício de seu futuro ofício. Vejamos outro exemplo:
“De outra parte, o sociólogo Zygmunt Bauman defende, na obra “Modernidade Líquida”, que o individualismo é uma das principais características – e o maior conflito – da pós-modernidade, e, consequentemente, parcela da população tende a ser incapaz de tolerar diferenças. Esse problema assume contornos específicos no Brasil, onde, apesar do multiculturalismo, há quem exija do outro a mesma postura religiosa e seja intolerante àqueles que dela divergem.”
Observe que Vinícius Oliveira de Lima, autor do trecho acima, inquestionavelmente demonstra sua referência filosófica para defender seu argumento, demonstrando proficiência e domínio do assunto. Sua redação conseguiu atingir todas as competências e alguns erros de grafia, por exemplo, foram até ignorados, visto a carga referencial com que defende seus argumentos.
As questões objetivas do ENEM
O Exame Nacional do Ensino Médio, agora realizado em dois dias (um domingo de cada semana), é dividido em quatro etapas, sendo elas: Ciências Humanas e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e a redação. As disciplinas que nos interessa neste artigo estão inseridas na primeira etapa “Ciências Humanas e suas Tecnologias”, a qual irá demandar do participante conhecimento em História, Geografia, Sociologia e Filosofia.
Um ponto crucial para demonstrar habilidade nessas disciplinas é o senso crítico. Segundo o Guia do Estudante, numa análise feita por diversos professores de cursinhos que avaliam as questões que mais caem na prova, o ENEM costuma dar preferência a assuntos atuais, assim como avaliar sua capacidade crítica para visar a igualdade entre diferentes grupos sociais. Além disso, o exame sempre procura colocar temas que envolvam o contexto brasileiro em toda sua diversidade.
Mesmo assim, algumas questões de Filosofia, por exemplo, são mais direcionadas a conceitos teóricos de diversos filósofos de todo o mundo, como destaque, pode-se dizer que Jean Jacques-Rosseau, Immanuel Kant, Reneé Descartes, reconhecidos por seus ideais iluministas do século XVIII, na maioria das vezes, fazem parte de algumas das 45 questões sobre as Ciências Humanas.
Aqui, alguns dos temas mais frequentes em Filosofia e Sociologia no Exame Nacional, segundo o site Guia do Estudante:
Etnocentrismo e alteridade.
Conflitos sociais e diferenças entre classes.
Produtividade no capitalismo informacional.
Globalização e tecnologia.
Direitos sociais e cidadania.
Portanto, todo conhecimento na área das Ciências Humanas requisita que se forme um pensamento crítico, seja qual for, que irá permitir que o aluno tenha um entendimento, de maneira mais ampla, sobre as situações científicas, sejam elas num contexto histórico-social e até mesmo nas Ciências Exatas. Não se esqueça que os filósofos da antiguidade como o trio Sócrates, Platão e Aristóteles se ocupavam de descrever as mais diversas áreas do conhecimento apenas com o raciocínio filosófico que procuraram desenvolver. Albert Einstein, da ciência moderna, por exemplo, se apoiava de diversas premissas filosóficas para examinar os fenômenos do universo e elaborar suas fórmulas matemáticas.
Como desenvolver entendimento e interesse por essas disciplinas?
O problema é que não resta muito escolha. Filosofia e Sociologia exigem esforço e leitura para aprender até mesmo seus conceitos mais básicos. De qualquer forma, não vivemos mais no início do século passado, isto é, temos disponíveis diversas opções multimídias que podem ajudar a despertar nossa curiosidade sobre o assunto.
O conhecimento, hoje, se mostra muito acessível pela internet, e por mais que você não goste de ler muito sobre alguns temas, é possível que aprenda um pouco sobre todos os assuntos, sabendo filtrar informações pelas plataformas digitais.
No Youtube, por exemplo, há vários canais de professores e alunos universitários que tentam explicar alguns conceitos e bases para o conhecimento científico de forma simples e divertida, utilizando-se de imagens e linguagem acessível. O Canal do Slow (https://www.youtube.com/user/estevaoslow/about), por exemplo, é uma ótima dica para quem acha entediante ler assuntos das Ciências Humanas. Estevão Slow, que dirige e apresenta os vídeos, explica de maneira esclarecedora e crítica diversos temas e períodos históricos, tópicos relacionados principalmente à História e à Filosofia. Canais de televisão como History Channel e National Geographic também são ótimas fontes de estímulo para o conhecimento dessas aulas.
De qualquer forma, é necessário sempre lembrar de que esses conteúdos apenas introduzem alguns fatos às pessoas, mas qualquer conhecimento mais profundo sobre Filosofia ou Sociologia ainda exige uma leitura frequente e direcionada.
Portanto, é notável que se chegue à conclusão de que qualquer conteúdo pode ser aproveitável para um pleno proveito do conhecimento. O Exame Nacional do Ensino Médio é, na verdade, extremamente exigente com o domínio das diversas áreas do conhecimento, e por isso tão temido pelos estudantes. No entanto, isso significa que tanto os conteúdos das Ciências Biológicas e Exatas quanto os das Humanas são relevantes para se avaliar tudo aquilo que o participante compreende por realidade, assim como não julga ser nenhuma mais importante do que a outra, mas sim uma integração entre todas as áreas.
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