Motivo de preocupação para os trabalhadores, que não sabem se e como se aposentarão após a sua aprovação no Congresso, a reforma da Previdência abre uma oportunidade para as empresas que querem atrair e reter os melhores talentos
Ainda não é certo que o projeto de reforma da Previdência será votado no Governo Michel Temer, apesar dos esforços do Presidente em fixar a data para fevereiro. O que poucos duvidam é que alguma reforma virá, e não poderá demorar muito. Estima-se que só no INSS, responsável pela aposentadoria e pensões de 27 milhões de pessoas do setor privado, o déficit chegou a R$ 149,7 bilhões em 2016; no caso do setor público, onde são atendidas 982 mil pessoas entre servidores civis e militares, o rombo é de R$ 77,2 bilhões. “Não dá para administrar a conta com esses resultados”, comenta José Anselmo, diretor da Vichiwork, consultoria especializada em gestão de benefícios e treinamentos empresariais.
Para as empresas privadas, o debate previdenciário representa uma oportunidade única para aumentar a atratividade e melhorar o índice de retenção dos colaboradores – dois indicadores preciosos para a gestão de Recursos Humanos. “O plano de previdência privada pode ser o grande diferencial na hora de alguém escolher a empresa onde vai trabalhar ou se decidir por continuar nela”, afirma Anselmo.
De acordo com o diretor da Vichiwork, atualmente o plano de previdência privada ocupa o último lugar na lista de benefícios oferecidos pelas empresas, especialmente as de porte pequeno e médio, sendo superados com folga pelos planos de saúde, seguros de vida e odontológicos, nessa ordem. “Está restrito a grandes corporações e ainda tem pouca penetração nas médias e pequenas empresas”, afirma. Diante da nova realidade que a reforma do Governo irá desencadear nas aposentadorias públicas – sejam quais forem, apesar das incertezas que ainda pairam sobre o projeto federal -, incluir um plano de previdência aberto com portabilidade, permitindo que ele siga a carreira do colaborador, poderá significar a diferença entre atrair, manter ou perder um grande profissional.
Atualmente, os planos oferecidos pelas empresas seguem três modelos: contribuição definida, em que o valor da contribuição é fixo e o valor do benefício é determinado no momento da aposentadoria; benefício definido, onde o valor da aposentadoria é fixo e as contribuições podem variar até chegar ao montante necessário para a aposentadoria; e contribuição variável, que combina as duas modalidades. “Dependendo do modelo adotado, o impacto na conta de benefícios do RH pode variar de 5% a 8% da folha da empresa”, calcula Anselmo.
O diretor da Vichiwork lembra ainda que o debate sobre aposentadoria está só começando e que as novas gerações de trabalhadores cada vez mais irão buscar formas alternativas para garantir a renda na terceira idade. Pesquisa recente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi) e instituto de pesquisa Ipsos concluiu que 62% dos jovens entre 23 e 34 anos já ouviram falar a respeito de mudanças nas regras da Previdência, índice superior à média geral (54%) e de grupos próximos de se aposentar, como a faixa de 50 a 59 anos (46%). Ainda assim, metade dos jovens ouvidos disseram não saber ou desconhecer detalhes de como será o caminho para a aposentadoria. “Essa é uma oportunidade de a empresa se colocar como agente do acesso à Previdência no futuro”, afirma José Anselmo.