Amor pronto x Amor construído

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Para a maioria de nós o amor é algo que acontece na nossa vida por uma questão de sorte ou de merecimento, creditando-se, ainda, que o amor é algo que existe de forma perfeita. Assim, sonhamos com o amor idealizando-o pleno, completo e mágico, pensando que basta a oportunidade de encontrá-lo e viveremos nosso sonho de amor. 
O amor em sua origem mais sutil é uma essência que permeia tudo no todo que é a vida, dentro e fora de nós, no macro e no micro universo. Assim, podemos reconhecer o amor na natureza, em tudo que ela manifesta, em nós mesmos, nas pessoas, nos animais, nas relações interpessoais e na existência como um todo. 
A palavra “amor” foi criada para designar o sentimento mais puro e elevado que nós seres humanos conseguimos sentir e expressar, em relação a nós mesmos, ao outro e à vida em sua plenitude. Ainda há a crença que o amor mais puro é o amor de mãe, trazendo com isto uma origem de referência para esta pureza.
Entendo que somos seres capazes de percebermos o amor nas suas várias dimensões e modos de revelar-se. Necessitamos compreender que o amor essencial se manifesta como a argila nas mãos do artesão, que através de sua ideação vai trazendo uma forma para a argila até chegar à expressão mais harmônica de sua arte. Porém, sendo o amor uma essência, assim como a argila, é necessária que sua forma seja construída através de nossa manifestação, pois o amor não é pronto e perfeito, pois como essência, o amor é harmonia, sendo necessário o trabalho interno para poder se manifestar através de nós.
A natureza expressa o amor de forma espontânea: o vento que refresca o calor; o calor que aquece o frio; as flores que embelezam a vida; os animais que amam sem cobrança; os pássaros que cantam preenchendo nossos ouvidos; as matas que sustentam o “elo-sistema” planetário, dentre outras formas de manifestações. Nós, contudo, somos seres de consciência construída, pois temos uma capacidade cerebral, mental, intelectual e uma consciência que nos permite o raciocínio, o pensamento, que gestam as emoções e os sentimentos. Nós raciocinamos e discutimos sobre o amor enquanto que a natureza e os demais seres do universo simplesmente manifestam o amor de forma genuína, da essência para a forma, de dentro para fora. 
Assim, o amor, que é harmonia essencial, acaba se tornando um dos grandes conflitos existenciais que termina muitas vezes na terapêutica da auto-ajuda: “você precisa se amar primeiro, pois se não se amar, como você irá amar o outro e também ser amado?” Entretanto, entender isto é bem complicado, visto que acreditamos que: “quem tem amor, tem e quem não tem, não tem!”; “quem tem a sorte de encontrar o amor tem, quem não tem esta sorte, não tem amor!”; o amor é algo que se encontra fora e não dentro de nós!”
Para transformar esta imaturidade de nossa visão sobre o amor, necessitamos compreender que o amor é em nós e que, portanto, não deve ser procurado fora, no externo, e, sim, reconhecido primeiramente em nosso interno, em nós mesmos. A partir desta perspectiva, passamos a sentir o amor de forma bem próxima, bem íntima e mais verdadeira e, assim, nos sentimos mais seguros para manifestá-lo, sem medo de ser feliz. 
A construção do amor demanda em primeiro lugar o desapego da idéia do amor pronto e perfeito, que nos leva à fascinação e nos conduz a idealizarmos “modelos” maravilhosos de amor nos afastando do amor verdadeiro que é aquele que vai sendo construído passo a passo, aprendendo com isto a compreender as dificuldades em relação ao amor como partes da construção para, assim, poder transformá-las e vivenciar o amor de forma mais madura.
A fascinação pelos “modelos de amor ideal” nos remete a buscarmos o amor que imaginamos e que queremos para nós e para os outros. Estes modelos, provenientes da fascinação pelo amor ideal, acabam interferindo na verdadeira percepção e entendimento sobre o amor. Esta é uma questão muito séria, pois é a origem dos muitos problemas e decepções que temos em relação ao amor. 
Outro ponto muito importante se refere à questão de pensarmos que o amor vivido em um determinado tempo tem que permanecer “igualável” através dos anos. 
Como terapeuta comportamental consciencial, o que mais ouço nas terapias são as queixas, mágoas e cobranças das pessoas no sentido de que não sentem ou recebem o amor como era “antigamente” ou no começo de algo, de uma relação amorosa ou afetiva seja qual for. Há uma tendência em se acreditar que o amor deve permanecer igual por todo o tempo de uma relação. É necessário que se compreenda que o amor é evolutivo, se transforma, pois vai acompanhando nosso amadurecimento. Porém, se sustentamos a crença de sua imutabilidade, vivemos presos a um modelo de amor que um dia vivemos que, pertenceu a um ciclo de nossas vidas e nos cobrando e cobrando do outro por sua desigualdade através dos tempos, deixando de vivenciarmos o amor como ele verdadeiramente é.
O amor, como tudo em nós, é construído em todos os sentidos, desde o amor conosco mesmo até o amor para com o outro e para com tudo. Novamente, penso na argila nas mãos do artesão e na necessidade de se trazer a forma a partir da essência, que significa de dentro para fora. Se você quer amor, construa o passo a passo deste amor e isto começa, primeiramente, em seu universo interno, assim, com certeza você estará mais próximo de amar e ser amado como você sempre desejou e como, certamente, merece, pois é seu direito natural!
Passos para a construção do amor
– Observe, com profundidade, quais são seus modelos de amor ideal.
– Procure compreender por que você sustenta estes modelos: carência, ilusão, aprendeu desta forma, rejeição de si mesmo, sentimento de vitimismo, busca pela perfeição, dentre outras causas.
– Desconstrua estes modelos idealizados de amor, desenvolvendo uma visão mais madura sobre si mesmo, sobre o outro e sobre o amor.
– Comece a pensar que tudo o que você quer em relação ao amor, necessita construir. Esta construção parte, em princípio, da auto-aceitação e da aceitação do outro como realmente “é”.
– O amor é uma essência que é como você, preenche todo seu ser, porém, necessita ser trazido do universo sutil para o manifestado.
– Seja verdadeiro consigo mesmo e busque sempre manifestar o amor através de todas suas ações.
– Observe no dia-a-dia como o amor se revela para você, ou seja, os sinais que a vida lhe traz em forma de amor.
– Ame-se como você é! Para isto, pratique a auto-aceitação e o reconhecimento de si mesmo.
– Reconhecer a si mesmo é valorizar os passos dados na vida, as experiências já vividas, o caminho de sua existência, acolhendo-se com amor, principalmente, quando há uma situação contrária a si mesmo.
– Por mais que não acredite, você está destinado a viver em amor pelos ciclos contínuos da existência, pois tudo no todo é essência amorosa!
Texto escrito por Ramy Arany, co-fundadora do Instituto KVT, terapeuta comportamental consciencial, autora dos livros, “Eternamente Ísis, o retorno do feminino ao Sagrado” e “Visão Gestadora- a visão em Teia”.

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